quinta-feira, 31 de maio de 2012

O blues



Enquanto o blues derrama todo o seu lamento em meu coração,
Observo, através do vinho tinto que repousa em minha taça,
O fogo da lareira queimando a vida que vivi num passado não
Muito distante. A taça bebeu o meu vinho mas não o engoliu.
Ele está ali, enche-a até a borda e de lá observa, com
Indiferença, uma indiferença que quase implica comigo. Mudo,
Observo o fogo queimando o que pensei ser a minha felicidade,
Ele queima a felicidade que vivi.

Na lareira a madeira cripta antes de queimar, como que
Contestando o seu destino. Na taça, o vinho espera eu o beba
Para amargar em minha boca e, em minha boca, o silêncio
Secou a minha língua e esta calou a minha voz que, amedrontada,
Não comenta as dores que afligem o meu coração. Através do
Colorido do vinho que repousa em minha taça observo, meio
Que hipnotizado, as mil cores da labareda que queima,
Preguiçosamente, na lareira enquanto o frio aguarda, encostado
Em minha porta, que esta se apague para vir ter comigo.

O blues, com sua batida lenta como as batidas do meu
Coração,  indiferente a minha agonia convida os fantasmas
Dos amores que abandonei para vir ficar comigo. Na lareira,
O fogo baila as tristezas que o blues versa em suas canções e,
Em meu coração, o vinho, embriagado, acorda os sonos dos
Quais nunca despertei e a saudade toma conta de mim.
A saudade trás de volta todos os personagens que imaginei
Haver esquecido no tempo, e o blues segue contando as
Minhas estórias e cantando as  minhas dores enquanto o frio,
Encostado em minha porta, aguarda que o fogo da lareira se
Apague para vir me abraçar.

                                                                                   Mauro Lucio


                                *

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