E a poeira
vermelha afogava os meus pés
Descalços que, sem ter
onde mais pisar, pisava
Em seu corpo.
O céu não
prometia chuvas, que sufoco!
O calor escaldante do serrado gritava:
"Olha o picolé!"
Os passantes observavam com
testa franzida o
Chamado que saía da minha garganta:
"Olha o picolé!"
Suas bocas secas suplicavam por
um copo
D´água fresca, quiçá gelada.
Ali, diante de seus olhos estava eu, o menino
Negro os torturando com seu grito
insistente:
"Olha o picolé!"
Sob o peso do meu corpo,
a poeira gemia,
Ficava vermelha ao esforçava-se
para levantar
O meu pé que pisoteava o seu corpo.
O sol escaldante queimava tudo, queimava
Inclusive a pele de quem o desafiava.
O negrinho precisava trabalhar, ele não podia
Esperar na sombra.
Teimoso,
vestido em sua pele escura, ele
Desafiava o sol gritando: "Olha o picolé!"
Aquele negrinho parecia não perceber que os
Viventes, fugindo da fúria do calor do sol,
Não davam ouvidos aos seus gritos que,
Valendo-se de suas liberdades corriam para
Se esconderem à sombra do silêncio.
Sem a ameaça
da chuva, o sol era reinante.
A poeira vermelha, em
seu repouso, não
Suportava ter aqueles pequenos pés
Pisoteando o seu corpo. Ela se levantava
furiosa
E sufocava as narinas dos passantes
que, não
Suportando o calor escaldante, franziam a
testa
Como que descrentes de que algum dia a chuva
Ainda
voltaria a chover naquele lugar.
O negrinho, protegido por sua pele preta,
Ignorando a violência do calor do sol, e
Indiferente
a tudo, descia a rua gritando:
"Olha o picolé!".
Lido da Silva,
*
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