quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Insensatez





Que a sensatez seja louca o suficiente para
se permitir apaixonar-se. 
Que chorem as lágrimas!
Coisa da paixão.
Não quero, como os lúcidos, ser a morada
da precaução.
Com medo da loucura e das desilusões, 
Perdi amores, fugi das oportunidades de 
me apaixonar.
Agora chega.
Não suporto mais ser um sano! 
Incauto, jogarei com a sorte, 
experimentarei adrenalina do medo e 
das desilusões.

Que importa as feridas!
Que os deboches, debochem dos meus 
tombos!
A idade não me impedirá de amar.
Não quero morrer sem experimentar o 
sabor da paixão.
Que a sensatez me repreenda!
Que a prudência, aborrecida comigo, 
deixe de me aconselhar!
Desta feita tomarei a insensatez por 
conselheira e, se acontecer, me 
apaixonarei.
Me entregarei à paixão.

Da estrada que me foi dada a caminhar, 
há muito, mais da metade já caminhei.
A caminhei na companhia da prudência, 
esta mulher ciumenta que, sequer, me 
permitia olhar para os lados. 
A prudência me podou tanto que nem m
dei conta da monotonia do meu caminhar. 
Olhando ao meu redor desconfio que
sequer saí do lugar.

Que a sensatez seja versátil o suficiente 
para se aceitar insensata porque, da 
estrada que me foi dada a caminhar, não 
tarda, chegará ao seu final. 
Não!
Não tomarei a monotonia por 
companheira até os meus últimos dias.
Insensato, quero correr riscos!
Quero que o orvalho dmadrugada me 
encontre, embriagado de amor, nos 
braços macios da paixão.
Quero experimentar o medo da 
insensatez sobressaltando o meu 
coração.

        Lido da Silva, Brasília, setembro de 2019


                       @

Doe. - Donate





As tuas necessidades são como o mar, nunca
Enche, nunca serão satisfeitas.
Ontem buscavas por uma casa simples, hoje queres
Uma mansão e amanhã essa já não te satisfará .
Quando será que a tua necessidade de mim, o teu
Deus, se manifestará?

Concedo-te o necessário para o teu conforto do dia
A dia, mas o teu dia a dia não está satisfeito com o
Que te dou, ele quer mais, sempre quer mais.
Quando te darás conta de que o teu espírito está
Morrendo de inanição, enquanto o teu ego já não da
Conta de usufruir toda a fortuna que acumulastes?
Quando perceberás que a tua infelicidade é fruto da
Tua ganância insana?

Assisto, angustiado, o desfile de vaidade que fazes
Acontecer em minha casa.
A vaidade passeia nos estacionamentos da igreja,
Exibe seus vestidos e ternos caríssimos, mostra suas
Jóias e daí vai até aos sapatos de grife.
A tristeza me consome quando ouço, no meio das 
Tuas pregações, dizeres:
 “A tua graça lhe será concedida  proporcionalmente
À quantia que doares a Deus!”.  
Como assim? 
Eu nunca preguei isto!
Doe às minhas obras somente o que entenderes que
Essas merecem! 
Somente o que mereço.

                                       Lido da Silva, setembro de  2019


                                     *

Donate


Your needs are like the sea, never
Fills, will never be satisfied.
Yesterday you were looking for a simple house, today
You want to have a mansion and tomorrow it will no 
Longer satisfy you.
When will your need for me, your God, will show up?

I grant you what is necessary for your daily comfort, 
But your daily confort is not satisfied with what 
I give to you and it wants more and more, your daily
Confort always wants more.
When will you realize that your spirit is dying by 
Starvation, while your ego no longer gets to enjoy all 
The wealth that you've accumulated?
When will you realize that your unhappiness is the 
Result of your insane greed?

I watch, in anguish, the vanity parade that you put on
At my house.
Vanity walks in church parking lots and
Show off the expensive dresses and suits, show off 
Your jewelry and the designer shoes.
Sadness consumes me when I hear you, in the middle
Of your sermons to say:
“Thy grace shall be bestowed upon the proportion of
The amount that you donate to God!”.
How is that?
I never preached it!
Donate to my works only what you understand that it
Worth!
Donete only what you understand that I do deserve.

                                       *


                         

domingo, 1 de setembro de 2019

Filhos de escravos - Children of slaves





Sou filho de escravos!
Meu sangue fertiliza cada milímetro quadrado
Deste país,
Sou da cor da noite que te amedronta, te 
Assusto, e tu me vigias.
Me vigias porque me temes como os teus 
Antepassados temiam os mistérios dos meus
Ancestrais.

Sou filho de escravos!
Escravizastes o corpo da minha gente, mas 
Nuca conseguistes escravizar os seus
Espíritos.
Livres, andamos pelas ruas observando o
Teu olhar desconfiado nos vigiando.
Nos fizestes tanto mal no passado que 
Agora temes a nossa vingança.

Sou filho de escravos!
Sou a verdade que gostarias de esquecer 
Mas não podes, não consegues.
Estou aqui, presença forte no teu dia a dia,
Sou tua família.
O teu olhar me vigia, me temes, temes 
Que eu um dia venha ocupar o teu lugar,
O lugar que pensas ser só teu.

Sou filho de escravo!!
Com o sofrimento aprendi a arte de viver, 
De sobreviver e de vencer a tua falsa 
Superioridade.
A minha vitória é apenas questão de 
Tempo, não tem jeito, vai acontecer.  
Sou filho da raça forte, sou filho da 
Sobrevivência, sou a parte da tua vida
Que gostarias de esquecer.

Sou filho de escravos!
Sou gente forjada pela dor do 
Sofrimento.
Sou gente que aprendeu com o açoite 
Do vento a arte de lutar e vou lutar 
Pelo que entendo ser meu.
Grito para que me ouças, quero o 
Meu espaço!
Quero o meu naco!
Quero o espaço que estou aqui para o 
Ocupar.
Sou filho de escravos,  mas já não vivo
Mais só de lamentar.

                   Lido da Silva, setembro de 2019

                      @

Children of slaves

I am the son of slaves!
My blood fertilizes every single square 
Millimeter of this country.
I am the color of the night that frightens
You, I frighten you, and you watch 
Over me.
You watch me over because you fear 
Me as yours ancestors feared the 
Mysteries of my ancestors.

I am the son of slaves!
You enslaved the body of my people,
But you never managed to enslave 
Their spirits.
Free, today we walked down the 
Streets watching your suspicious 
Gaze watching us.
You have done us so much harm in 
The past that now you fear our 
Revenge.

I am the son of slaves!
I'm the truth you'd like to forget
But you can't, you can't.
I'm here, a strong presence in your
Everyday life, I'm your family.
Your gaze watches over me, you
Fear me, you fear that one day 
I may take your place, a place 
That you think is yours alone.

I'm a son of a slave!!
With suffering I learned the art of 
Living, I learned to survive and 
Overcome your false superiority.
My victory is just a matter of
Time, there's no way, it will 
Happen.
I am a son of the strong race, I am 
A son of survival, I'm the part of 
Your life a part that you would be
Pleased to forget.

I am the son of slaves!
I am forged by the pain and 
Suffering.
I'm people who learned from the 
Whip from the wind the art of 
Fighting and I will fight for 
What I understand to be mine.
I scream for you to hear me, 
I want my space!
I want my piece!
I want the space I'm here for
To occupy.
I am the son of slaves, but I no 
Longer live just to lament.

                   @


Fardo

  Envelheci. O que me foi dado a viver, vivi.  Os meus olhos, agora cansados, vêm, ainda que sem muita nitidez, a hora da minha despedida. V...