quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Não tenho pressa - I have no hurry



Já não tenho pressa,
A pressa não faz o menor
Sentido para mim.
A idade chegou, o peso
Do tempo ignora as minhas
Vontades, quando não
Zomba destas.
Não lamento as coisas que
Fiz e, bem menos, as que
Não fiz.
A maturidade ensina
Que as lágrimas não trazem
As coisas de volta,
Não resolvem.
Passou, está enterrado,
Há de ser esquecido.
Já não tenho pressa,
A idade roubou-me a disposição
De correr e, andando devagar,
Divago.  Divago e o divagar
Bolina com velhas feridas e dói,
Faz as lágrimas embaçarem o
Meu olhar.
De repente um sorriso sorrir
E me recorda que lágrimas
Nada resolvem.
Interessante...
Quando jovem, em meu
Íntimo, me preparava para
A idade, mas veja isto:
Idoso me dou conta de que fui
Pego pelado pela velhice.
Deus meu! ... Confesso que
Não imaginei que a velhice
Fosse assim, não que ser velho
Seja ruim, mas quantas saudades!
Já não tenho pressa,
A pressa não faz o menor
Sentido para mim.

               Habacuc, janeiro de 2019



              $

I have no hurry

I'm long in a hurry.
The haste makes no
Sense to me.
The age has come, the weight
Of the time ignores mine
Wishes, when do not
Make fun of it.
I don't regret the things that
I have done, much less, the 
Ones that I have not.
Maturity teaches that tears
Ddon't bring things back,
Do not solve problems.
What has gone is gone, 
It's buried, it must 
Be forgotten.
I'm not in a hurry anymore
Age has stolen my 
Disposition of to running
And, walking slowly,
I digress.
I digress and the digress
Mess with old wounds and 
It hurts, makes the tears blur
My eyes.
Suddenly a smile smile
And reminds me that tears
Do not solves problems.
Interesting...
When I was young, in my
Intimate, I used to prepared 
Myself for the old age, 
But look at this:
As an old man I realize that 
I was caught naked by it.
My God! ... I confess that
I never imagine that old age
Would be like that, it is not that 
Bad to be old, but how 
I miss thing that I already lived!
I'm no long in a hurry,
Right now, haste makes no
Sense to me.

         $

domingo, 20 de janeiro de 2019

Indiferença - Indifference


O sorriso maroto, ignorante, ria zombeteiro
Enquanto a vida lhe escapa.
Chutar a porta não o incomoda o incomodo,
Para ele já está instalado.
Barulho pouco é besteira, não assusta.
As ruas, em pleno meio dia, dormem o seu 
Sono da meia noite.
Os cachorros da vizinhança, preguiçosos
Como seus donos, não ladram.
Na inércia dos inertes tudo de ruim acontece
Sem ser incomodado.
O furto que será anunciado amanhã, quando 
Anunciado, o pior já terá acontecido e mais
Nada a fazer senão especular.

Então o sorriso maroto ria zombeteiro.
A rua acorda alvoraçada, desinformada, não
Tem ideia da gravidade do que se deu.
A vida, que só tira os inocentes para dançar,
Passa.
Ela passa rápido como o argamandel.
Os viventes, não se dão conta de suas  
Obrigações, não aprendem com as lágrimas
Já vertidas.
Mais um dia!
Outro chute na porta que reclama rangendo,
Murmura um impropério qualquer e
Permanece inerte.
O tempo fechou, amedrontado o sorriso,
Outrora maroto, emudece o seu sorriso.
As luzes se apagam e os viventes, 
Amedrontados, se recolhem em suas camas
E fingem dormir.
Finalmente o medo se instalou.

                                 Habacuc, janeiro de 2019

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Indifference


The naughty smile, ignorant, mocking laugh
While the life eludes him.
Kicking down the door doesn't bother him,
To him the mess is already installed.
Little noise is bullshit, it doesn't scare.
The streets, in the middle of the day, sleep 
Its midnight sleep.
The neighborhood dogs, lazy
Like their owners, don't bark.
In the inertia of the inert, everything bad 
Happens undisturbed.
The theft that will be announced tomorrow, 
When announced, the worst will have 
Already happened and nothing more can be
Cone if not to speculate.

Then, the mischievous smile laughed 
Mockingly.
The street wakes up in an uproar, 
Uninformed, have no idea how serious is 
What took place.
The life, which take only the innocent ones
To dance, pass by so fast.
It passes as quickly as the argamandel.
The living ones are not aware of their bonds,
They din't learn from the tears already cryed.
One more day, a new day!
Another kick at the door that complains 
Creaking, murmurs any impropriety and 
Remains inert, closed.
Time became heave, frightened the smile,
Once naughty, now keep mutes his smile.
On the streets the lights go out and the 
Living, frightened, retreat to their beds and
Pretend to be sleeping.
Finally the fear is set in.

                           @

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Tu gente sem credo





Que tu criatura sem fé não me ouças,
Mas azar o é teu.
Experimentar o terror do medo
Sem ter a quem gritar,
Engolir os sustos a seco,
Sem ter em quem se apegar,
E não gozar da alternativa de  
Poder clamar,  é desventura,
É desventura.

Que tu pessoa sem fé,
Em tua descrença não convalesça nos braços
Da depressão.
Que o frio do desagasalho espiritual não
Vista o teu coração.
Que a materialidade das coisas nunca lhe
Pregue um sermão.
Que a verdade irada não lhe atire ao chão.

Que tu gente sem fé não me leia,
Que não ouça as orações que oro por teu espírito,
Pois as oro por teu espírito e não para o teu espírito.
Que a minha fé não lhe agrida,
Por não ser esta a minha intenção,
Oro por ti, como oro para nossos irmãos,
Coisas do meu coração.

Que tu gente sem fé,
Não sinta medo, que as enfermidades jamais
Lhe encontre, que os amigos não lhe faltem,
Pois creio ser desesperador a solidão,
Penso ser horrível o inverno espiritual,
E enlouquecedor a falta de um ser supremo,
A falta de um porto confiável,
Nos momentos das grandes tempestades.                                                                

Que tu pessoa sem fé não me leia!
Que nunca saiba das orações que oro por tua alma,
Que rogo a Deus piedade para o teu espírito.
Pois é certo que, inda que tarde, haverá de chegar
O momento em que tu se encontrarás
Frente a frente com Deus.
Oro para que esse dia seja um dia de
Arrependimento
Que seja o dia de pedido de perdão,
Que não seja de contestação.

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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A merda pariu


Do deboche à trapaça, coisa
sem graça, coisa dum 
sorriso só.

É um nó!
A vontade de xingar não 
vinga, a boca cala, passa.

O sorriso não foi convidado,
a presença do choro, ainda 
que a situação reclame, é
insensato.

Pariu!
A merda pariu!
As casas, desconfiadas, 
ficam mudas, mas 
pardieiro festeja.

A situação se agravou
quando a criatura chorou.
Chamaram o doutor que,
desconfiado sentenciou :
- Isto é normal.

Da trapaça o deboche,
enganaram os pobres e 
ninguém reclamou.
Mas a grita teria sido 
grande se houvessem 
ludibriado o doutor.

Lido da Silva - Castries, janeiro de 2019.

                *



Fardo

  Envelheci. O que me foi dado a viver, vivi.  Os meus olhos, agora cansados, vêm, ainda que sem muita nitidez, a hora da minha despedida. V...