sábado, 28 de maio de 2016

Gente da favela



Guerra desigual é esta na qual só
os guerreiros negros tombam.
Luta inglória que a história,
envergonhada, esconde, se nega
a contar.
Lágrimas, sorrisos interrompidos,
dor.
Muita dor!

As favelas gemem, a dor brota de
suas entranhas e estranha quando
os passantes lhe perguntam
porque está a chorar.
Chora morro, chora favela!
Chora os teus filhos que morrem
sem que lhes seja dado a 
conhecer outro mundo senão a
favela.
Chora mãe preta, chora!
O teu filho nunca mais voltará.

Corre mãe preta, guarde os teus
filhos daqueles que dizem
querer ajudá-los!
Proteja-os das balas perdidas, a
lei está subindo o morro e não
tarda a começará a atirar.

Conte, menino negro, a história
que a história se nega a contar.
A lei está subindo o morro e 
quando desce levará o teu corpo
em um caixão.
Chora, as vítimas das balas
perdidas, mãe preta!

Ouça, menino, com atenção a 
batucada que batuca na 
madrugada!
Ela bate como as batidas do teu
coração quando tentas fugir
da condição de favelado.

Escravidão maldita que nunca
teve fim, ainda hoje, escraviza a
minha gente, e rouba os meus
entes queridos, e continua
correndo atrás de mim.

Luta desigual é esta que gera as
circunstâncias para que nós, os
negros, continuemos a nascer nas
favelas, local de onde só saímos
quando a lei sobe o morro e, em
meio as balas perdidas, nos leva
dentro de um caixão.
 
Guarda os teus filhos mãe preta,
proteja-os das balas pedidas que
sem piedade te faz chorar.
Chora morro, chora favela, vives
uma história que a história se
nega a contar.

O Observador - Chuy, maio de 2016

                @

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O Tolo


O Tolo, operário, despretensioso,
Ministro se fez.
Embriagado em devaneios, se
Despiu de sua humildade e,
Ambicioso, missionário se 
Tornou.

Tomado pela fome indomável 
Da ambição, dos bons princípios
Tolo se olvidou.
Acreditou dominar o templo, 
Mas isto com os fies ele não
Combinou.

O Tolo devaneou.
Homem de discurso 
Convincente, convenceu a 
Gente ser homem decente 
Quando lhes falou.

A sua fala aguçou a ambição 
Dos ricos e enfeitou os sonhos
Dos desfavorecidos.
Convenceu aos crentes e aos 
Descrentes que o escutou.

O que o Tolo falou o povo
Acreditou e, no que os 
Viventes acreditavam o Tolo
Falava.
O Tolo falou para o mundo
E o mundo o ouviu.

O mundo fingiu acreditar n
Tolo e o Tolo, incauto, n
Mundo creditou, não 
Atentou ser tudo mentira.
Era mentira o que o Tolo 
Falava e era mentira que, no
Tolo, o mundo acreditava.

O Tolo não atentou para o 
Fato de os fies ricos fingirem 
Melhor que os pobres e que 
Esses, por sua vez, imitavam 
Os ricos.

O Tolo ambicioso não 
Cuidou e sua congregação 
Desmoronou, a gente rica o 
Abandonou e os pobres 
Fingem lamentar o seu 
Abandono.

O Tolo, homem crente e 
Humilde, operário  
Despretensioso, ministro
Se tornou.
Embriagado pelos 
Encantos do poder 
Despiu-se de sua 
Humildade e ganancioso
Se tornou.
O Tolo quis ser o dono
Do mundo mas o mundo
O rejeitou.

              Habacuc, maio de 2016.

               @

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Tudo acaba - Everything ends


Passa-me o desespero do tempo, não
entendo a sua pressa quando é certo
que tudo tem o seu tempo para 
acabar.

Por que a ânsia de ficar velho?
Acaso a juventude incomoda?
Os eventos se dão tão de repente 
que, mesmo os desencontros, se 
perdem.

Quero crer no sorriso, no amor e 
na paixão, mas tudo se dá tão 
eventualmente que me perco 
olhando pro chão.

Escapa-me a frieza com que o
dias me abandonam.
O início da minha existência se
deu de forma tão romântica
que me fez acreditar ser ele 
eterno.

Engano, ledo engano, nada a ver!
Tudo tem um tempo certo para 
acabar.
Assim se dá com os dias, com as
semanas e com as juras de amor 
eterno, enfim, com a vida.

Não quero crer que o tempo seja
uma metamorfose, mas sei que 
o é.
Cada momento é uma estória, 
uma indefinições e uma
incertezas.
Muitas incertezas!

A vida, a morte e o medo do 
purgatório são, juntos, apenas
a certeza de que todos 
morremos.
Todos morreremos!
Tudo neste mundo tem um 
tempo predeterminado para
acabar.

Não nos angustiemos com 
os percalços de nossas vidas
pois nada neste universo se 
dá antes do seu tempo de
se dá.

    Habacuc - Chuy, maio de 2016

                   @

Everything ends


The desperation of time passes me,
I don´t understand the rush of the time
When it's right that everything in this
Universes has its right time to end up.

Why the urge to get old?
Does the youth bother?
Events takes place so suddenly
That, even the disagreements, gest
Losted.

I want to believe in smiles, in love and
In passion, but everything happens so
Eventually that I find myself losted
Looking at the floor.

I miss the coldness with which the
Days leave me.
The beginning of my existence
Was so romantic that
Made me believe that it would be eternal.

Deceit, pure deceit, nothing to do!
Everything has a right time
To end.
So it is with the days, with the
Weeks and with the vows of
Eternal love, finally, with life.

I don't want to believe that time is
A metamorphosis, but I know that
It is.
Every moment is a different story,
An indefinitiness and one
Uncertainties.
Many uncertainties!

The life, the death and the fear of the
Purgatory are just
The certainty that we all will
Die.
We will all die!
Everything in this world has a
Predetermined time
To finish.

Let's not get upset with
The mishaps of our lives because
Nothing in this universe
Happen before its right time
To take place.
                
                 @


terça-feira, 24 de maio de 2016

Não negue - Do not deny



Diga sim!
Discorde, mas não negue,
Siga adiante.

Se for preciso pensar,
Pense, mas não dispense.
Não tema.

Na dúvida, concorde 
Com o "sim".
Admita o sim!

Os cacos são desprezados,
As ideias mudam, as
Circunstâncias ditam o
Ritmo.

O amanhã é incerto e, nem
Sabemos se chegará.
Sem medo, diga sim.

O ontem é passado, saia
Para o agora.
Liberte-se.

As recomendações são 
Esquecidas tal como as
Dores morrem.

Os sorrisos também 
Choram e o choro, às
Vezes, sorri.

O medo existe, existe
Para ser experimentado
E não para ser temido.

A incerteza é uma 
Ameaça. 
A razão é louca.

Dúvidas! ...  Só diga
Sim! O não, não evolui,
Ele bloqueia a vida.

Diga sim agora e, se
Precisar acerte com o
Remorso amanhã. 

           Habacuc, maio de 2016.

         @

Do not deny

Say yes!
Disagree but don't deny
Go ahead.

If you have to think,
Think, but don't dismiss.
Do not fear.

When in doubt, agree
With the "yes".
Admit yes!

The shards are despised,
The Ideas change,
Circumstances dictate the
Rhythm.

Tomorrow is uncertain and
We don’t know if it will come.
No fear, say yes.

The yesterday is past, Lets try
The now.
Free yourself.

The recommendations are
Forgotten like the
Pains die.

The smiles also cry
And the crying, som
Times, smile.

Fear exists, exists
For to be experienced
But not to be feared.

The uncertainty is a
Threat.
The reason is crazy.

Doubts! ... just say yes!
The no, does not evolve,
It blocks life.

Say yes now and if
Need talk to the
Remorse tomorrow.

               @


segunda-feira, 23 de maio de 2016

Incertezas - Uncertainties


A descrença não é mestre.
O medo, ainda que forte, também teme.
A angustia aflige mas não vence.
A derrota, ainda que amarga, não é 
Eterna.
Então o meu sorriso sorrir.

Os tropeços caem sobre os tombos e,
Desesperado, verto lágrimas.
O choro só chora o que há de ser 
Chorado.
O sufoco libera o espírito e lhe 
Permite gritar o que necessita ser
Gritado.

Das dúvidas me escondo.
Descrente desdenho a fé, ainda 
Que sem, fé oro.
Não quero estar só.
Em prece acredito, tudo mudará.
Não importa que a dúvida
Permaneça, faço desta um novo
Lugar.

Que brilhe o sol, que o sorriso
Venha me visitar.
Que a música toque e que outro
Dia chegue.
Que chore a tristeza e que o frio
Da noite me acalente.
Minhas dúvidas, as incertezas,
Vida que a vida me dá.

    Habacuc - Chuy, maio de 2016

                    @

Uncertainties

The disbelief is no master.
The fear, although strong, also fears.
The anguish afflicts but does not win.
The defeat, however bitter, is not
Eternal.
Then my smile smile.

The stumbles fall on the tumbles and,
Desperate, I shed tears.
The crying only cries what has to be
Cried.
The suffocation releases the spirit and
Lets it scream what needs to be
Screamed.

From doubts I hide myself.
Unbeliever I disdain the faith, still
Without faith, I pray.
I don't want to be alone.
In prayer I believe, everything gone 
Change.
It doesn't matter if the doubt stay,
I make this a new place.

May the sun shine, may the smile
Come to visit me.
Let the music play and allow a new
Day comes.
Let the sadness cry and the cold
Of the night soothes me.
My doubts, the uncertainties,
Life that the life gives to me.

                   @


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nas ruas


Gritam as ruas:
Fora! Fora! Fora!
Sirenes passam velozes
como que fugindo de alguém,
passos apressados,
curiosos em alvoroço,
barulho, muito barulho,
falatório.
Viventes vociferam,
viandantes assustado,
o medo instalado,
lágrimas.
Na multidão vozes gritam:
- É lá, está lá!
Apontam.
O deboche, sinistro,
zomba das coisas sérias.
O sério, envergonhado,
se esconde.
Protestos.
O vociferador de ontem
não vocifera agora,
os sorrisos de outrora
agora vociferam.
Acabou!
Alguém grita.
Cá comigo penso: "Ledo engano,
agora é que vai começar."
Os iludidos se iludem,
os tolos digladiam-se entre si.
Desapercebidamente
deixo o tumultuo da multidão e
me recolho ao refúgio 
da prudência.
Aliás, que prudência,
que magnifico remédio!
A prudência cura até a loucura
que os loucos demagogos,
insistem em violentar.

O Observador - Chuy, maio de 2016.

               @

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Descrente


Descrente de tudo, ouço gritos que
gritam sem dor e assisto a protestos
que protestam sem ter contra o que 
protestar, mas protestam.

Não importa se a porta esta fechada,
la de dentro escapam gemidos que 
não deviam escapar, até porque, as
ruas não os ouve e, se livres, 
destoam do lugar.

Os tempos agora são outros e, n
âmago atual situação, as gargantas 
gritantes gritam em saber
exatamente porque gritam.
Sinto-os presos às suas ilusões.

Estou descrente das coisas, 
descrente das pessoas.
Nas ruas o brandir do chicote
chicoteia e então ouço grito, vejo
lágrima, e as lágrimas sorriem.

Não!
O chicote que nunca respeitou  
agora chora e a mão que açoitava 
implora por clemência. 
Estou descrente das coisas.

Descrente da tudo assisto os lábios
que mentiam exigirem verdades, 
mas atenção, eles só aceitam  as 
suas verdades, as verdades que
regem a todos não lhes interessa.

Descrente das coisas vejo 
viventes exigem respeito, mas só 
o respeito que os respeite, 
respeito que abarca a todos não 
lhes interessa.

A peça é a mesma, implora para 
que a mão que castiga não o 
castigue, mas grita para a mão que
 pune puna os outros sem 
misericórdia.

Estou descrente das coisas, 
descrente das pessoas.
Eu simplesmente estou descrente

      O Observador - Chuy, maio de 2016.

                 @

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Me abraça


Atiro-me em teus braços,
E o teu abraço me deixa cair.
Pesadelo.
Acordado sonho com os teus beijos,
Que sem jeito nunca souberam me beijar.
Te amo.

Sem o teu calor,
Me aqueço em qualquer corpo.
Soluços.
A tua ausência apodera-se do meu coração,
Chamo o teu nome e,
O vazio vem.

Já faz tempo,
O calor do teu sorriso não me aquece,
O brilho do teu olhar não ilumina o meu caminho,
Ando sozinho.
Aturdido busco o teu amor
Que não quer me amar.

Atiro-me em teus braços,
Mas o teu abraço não me alcança.
Me canso,
Estou cansado de viver longe de ti,
Te vendo tão perto.
Me abraça!


          @

Devotos da perversidade.

  Me recuso a acreditar que mentes sanas deem a luz a pensamentos insanos. Não! Definitivamente não creio que aconteça  de um coração justo ...