sábado, 20 de abril de 2013

O meu retrato




O meu retrato!
O meu eu do jeito que sou, previsível até que o 
previsível se torne tão evidente que me obriga a crer 
ser eu este que vejo quando diante do espelho.
Sou o sol que brilha nos dias de chuva, sou a chuva
que chora as tristezas da vida, e sou a brisa que beija
os beijos dos apaixonados.
O meu retrato, um sorriso que sorri sem graça achando
graça dos infortúnios da vida.
Que vida?
O que será a vida?
Terá alguém vivido o bastante para ter aprendido, de
fato, o que é a vida?
Não creio!
O meu retrato sorri da ignorância daqueles que 
acreditam entender a vida, sem se dar conta de que a 
mão fria da morte os esta tirando para dançar. 
Quando o meu retrato, mundo, canta a sua canção, ele 
o faz até que a luz que não brilhava, brilhe e dê 
sentido a vida.
A vida!
O que será a vida, caso ela de fato exista?
Há pouco me referi a vida que vivo como se esta fosse
algo que me pertencesse, e então ela de imediato 
zombou da minha prepotência. 
Não tenho vida, a vida alojou-se em meu coração sem 
nunca tornar-se parte de qualquer evento que eu possa
considerar que me pertença.
O meu retrato sorri da minha ilusão de ser o "dono" da
que considero a minha vida.
Que vida?
O que é a vida se não uma sequência de fatos? 
O meu retrato, sarcástico, guarda-se ao perceber o 
vento sopra uma nuvem sobre o meu sol, e me vestir 
de frio. 
O meu retrato, o meu eu, o jeito que sou, a vida que
vivo.
A vida e suas imprevisibilidades que me desconcertam
sempre que me deixo acreditar que tenho uma vida
para viver. 
Tudo acaba assim; um adeus, as lágrimas, e o sorriso
sem graça da tristeza estampado nos lábios a se
despedirem da pessoa que aparece em meu retrato.
Retrato! 
A foto do meu retrato, eu. 
Acredito que sou apenas o fruto de um beijo, o último 
beijo antes das cinzas.

                       O Observador - Chuy, abril de 2013

                               *

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