domingo, 28 de janeiro de 2024

O vento sopra



Nunca soube porque o vento sopra,
mas sempre desconfiei que quando
ele vem, ele me traz a idade, e que
quando ele vai, ele leva consigo a
minha juventude.
E já levou quase tudo.

Sempre gostei de assistir o 
bailar das chuvas, mas nunca as 
tirei para dançar.
Tenho medo dos relâmpagos e não
gosto dos trovões, eles me soam
como sermões.

Envelheci ouvindo o cantar dos
ventos mas, ainda hoje, ele me
assusta quando canta no meio das
madrugadas escuras.
Gosto do vento, mas não gosto do
seu lamentar

Quando chove no meio da noite,
me ponho a cismar.
As chuvas tardias são como as
paixões não correspondidas, do
nada se fazem violentas e, as 
vezes, chegam a matar.

Ainda hoje não entendo bem o
porque de o vento soprar.
Já estou velho, o vento levou
consigo a minha juventude e
deixou comigo apenas um corpo
fraco,  envelhecido.

Habacuc – Chuy, janeiro de 2024.

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