quarta-feira, 30 de maio de 2012

O mar



Até quando durará a sede do mar,  que devora sem embebedar-se,
Toda a água que os rios derramam em sua garganta sem sacia-lo?
Onde será que o mar esconde a água que bebe, quando sua maré
Baixa? 
Onde? 
Quando e como as águas dos rios comem sal para se fazerem
Salgadas, e tornarem-se intragáveis, mesmo para os paladares
Mais ásperos? 
Por que as águas dos rios, que quase sempre são meigas, doces e 
Suaves, enchem-se de fúria ao serem tragadas pelo mar? 
Por quê?
Me diga por que nem toda a água que a chuva derrama no ventre 
Do mar é capaz de adocicar suas águas.

Até quando?
Até quando o mar vai continuar se atirando,  se jogando 
Furiosamente, sobre a terra? 
Até quando o mar permanecerá açoitando as rochas que assistem,
Passivamente, a sua fúria gratuita, até quando? 
Não entendo porque que, quando me aproximo do mar este,
Enfurecido, atira-se violentamente sobre a praia ansioso por 
Engolir-me, ansioso por levar-me para o esquecimento que mora 
Nas profundezas de suas águas. 
Por que?
Por que nada e nem ninguém é capaz de amainar a fúria do mar
Que permanece furioso até quando toda a natureza dorme?

Por que as águas dos rios não se revoltam ao perceberem estarem
Sendo arrastadas para as profundezas do mar? 
Por que será que os rios aceitam tão pacificamente a suas morte? 
Não entendo a passividade dos rios diante de um fim tão trágico. 
O mar urra, ele se faz ouvir até nos topos dos montes, onde a sua 
Fúria espanta todas as criaturas ali viventes, mas ela não consegue 
Espantar a passividade das águas dos rios que seguem seu curso 
Rumo a sua morte, indiferente ao seu terrível destino. 
Por que será que a água doce  e fria da chuva não consegue 
Adocicar e nem acalmar a fúria do mar? 
Por quê será?

                          O Observador - Brasília, maio de 2012.

                                           *


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