
Até quando durará a sede do mar, que devora sem embebedar-se,
Toda a água que os rios derramam em sua garganta sem
sacia-lo?
Onde será que o mar esconde a água que bebe, quando sua maré
Baixa?
Onde?
Quando e como as águas dos rios comem sal para se fazerem
Salgadas, e tornarem-se intragáveis, mesmo para os paladares
Mais ásperos?
Por que as águas dos rios, que quase sempre são meigas, doces e
Suaves, enchem-se de fúria ao serem tragadas pelo mar?
Por quê?
Me diga por que nem toda a água que a chuva derrama no ventre
Do mar é capaz de adocicar suas
águas.
Até quando?
Até quando o mar vai continuar se atirando, se jogando
Furiosamente, sobre a terra?
Até quando o mar permanecerá açoitando
as rochas que assistem,
Passivamente, a sua fúria gratuita, até quando?
Não entendo porque que,
quando me aproximo do mar este,
Enfurecido, atira-se violentamente sobre a praia ansioso por
Engolir-me, ansioso
por levar-me para o esquecimento que mora
Nas profundezas de suas águas.
Por que?
Por que nada e nem ninguém é capaz de amainar a fúria do mar
Que permanece furioso até quando toda a natureza dorme?
Por que as águas dos rios não se revoltam ao perceberem estarem
Sendo arrastadas para as profundezas do mar?
Por que será
que os rios aceitam tão pacificamente a suas morte?
Não entendo a passividade dos rios diante de um fim tão trágico.
O mar
urra, ele se faz ouvir até nos topos dos montes, onde a sua
Fúria
espanta todas as criaturas ali viventes, mas ela não consegue
Espantar a passividade das águas dos rios que seguem seu curso
Rumo a
sua morte, indiferente ao seu terrível destino.
Por que será que
a água doce e fria da chuva
não consegue
Adocicar e nem acalmar a fúria do mar?
Por quê será?
O Observador - Brasília, maio de 2012.
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