O vento sopra uma prece.
A chuva diz amem.
O sol, agradecido, se levanta para um novo dia.
No solo, consumido pelo
tempo, tudo vira pó.
É a vida!
É o meu corpo que, carregado pela idade ,
murcha a minha pele que, queimada
pelo sol se
enruga, fica flácida e
cai.
Tudo em mim cai, atira o meu corpo ao chão
onde tudo se transforma em pó.
Sou eu, semente, que ao
final das primeiras
chuvas, tal qual as
plantas, germino e volto à
luz.
Renasço, cumpro,
assim, a promessa da vida
eterna.
Para os vivos, enquanto vivo, sou
presente.
Para os mortos, enquanto vivo, sou futuro.
Morto, os mortos tratam-me no presente,
enquanto os vivos referem-se a mim como
passado.
Utopias, incoerências, dúvidas e incertezas.
É o
que a vida é.
A vida escapa ao entendimento dos viventes
que desde o princípio recusam-se a aceita-la
como ela é, mistérios.
Morto, assim como as
semente, repousarei
sob a terra até que a próxima
chuva molhe o
meu corpo e o faça germinar.
Então, serei uma nova vida.
Ressuscitarei.
O vento sopra uma prece!
A chuva diz amem.
O sol, reluzindo gratidão, se levanta para um
novo dia.
Seco, o fruto morre, se desapega de tudo que
o prende à vida e cai.
Ao cair, o fruto deita a sua semente sob o
solo, e esta, ao final das primeiras
chuvas,
germinará.
Então o vento sopra uma prece, a chuva
chora uma oração.
O sol, mudo, se pões a espera de um novo
dia que o amanhã que lhe prometeu trazer.
O Mensageiro, Brasília, agosto de 2012
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