segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O vento sopra uma prece.



O vento sopra uma prece.
A chuva diz amem. 
O sol, agradecido, se levanta para um novo dia.
No solo, consumido pelo tempo, tudo vira pó. 
É a vida! 
É o meu corpo que, carregado pela idade , 
murcha a minha pele que, queimada pelo sol se
enruga, fica flácida e cai.
Tudo em mim cai, atira o meu corpo ao chão 
onde tudo se transforma em pó. 
Sou eu, semente, que ao final das primeiras 
chuvas, tal qual as plantas, germino e volto  à 
luz. 
Renasço, cumpro, assim, a promessa da vida 
eterna.

Para os vivos, enquanto vivo, sou presente. 
Para os mortos, enquanto vivo, sou futuro. 
Morto, os mortos tratam-me no presente, 
enquanto os vivos referem-se a mim como 
passado. 
Utopias, incoerências, dúvidas e incertezas.
É o que a vida é.
A vida escapa ao entendimento dos viventes 
que desde o princípio recusam-se a aceita-la 
como ela é, mistérios. 
Morto, assim como as semente, repousarei 
sob a terra até que a próxima chuva molhe o
meu corpo e o faça germinar.
Então, serei uma nova vida.
Ressuscitarei. 

O vento sopra uma prece!
A chuva diz amem. 
O sol, reluzindo gratidão, se levanta para um
novo dia.
Seco, o fruto morre, se desapega de tudo que
o prende à vida e cai.
Ao cair, o fruto deita a sua semente sob o
solo, e esta, ao final das primeiras chuvas, 
germinará. 
Então o vento sopra uma prece, a chuva 
chora uma oração. 
O sol, mudo, se pões a espera de um novo 
dia que o amanhã que lhe prometeu trazer. 
                                     
  O Mensageiro, Brasília, agosto de 2012

                 *




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