sábado, 25 de novembro de 2023

Vozes



Ontem, bem ali na esquina, vi uma voz
ser calada.
O medo reinante no momento é tão 
intenso que nem os cachorros, que 
naquele momento passavam pelo local,
rosnaram.
Os cachorros não latiram, 
fingindo não
haver testemunhado o ocorrido, não 
emitiram sequer um rosnar.
Amedrontados, optaram pela prudência.

Não latiram!

Os cachorros que deveriam latir não

latiram, então me senti desprotegido. 

Diante do silêncio amedrontado cães me

senti só.

Me senti totalmente vulnerável,

desprotegido.

Se os cães que são treinados para guardar

a todos, não guardam ninguém, quem sou

eu para levantar a minha voz e protestar? 


Os gatos que normalmente observavam

tudo de cima dos telhados, astuto como

sempre, ao perceberem o meu incomodo,

me recomendaram silêncio.

Tomados pelo medo, como se pisando

em ovos e cientes de que não tomarão 

atitude alguma, me garantiram que agirão

oportunamente. 


Com a minha consciência me condenando,

me calei.

Me calei!

Me calei mas, este calar, me consome, doí

tanto que temo não suportar.

Estou chorando a dor de testemunhar uma

voz ser sufocada.

Choro, também, a agonia de não saber

quantas outras vozes ainda ainda serão

caladas antes de o calador ter a sua voz

calada. 


            Lido da Silva, Chuy, novembro de 2023


                       @ 


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