quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cais



Cais! 
Cais e, em teu tombo, pronuncias nomes que 
esqueces tão pronto te pões de pé.
De pé, encostado à parede do vento que 
sopra as tuas feridas, pronuncias palavras 
que ferem a sanidade.
É a idade da morte que se aproxima de ti e, 
te tira para dançar, e danças.
Danças até cair, e não mais te levantar.

Cais! 
Como a chuva silenciosa da madrugada, cais.
Cais e adormeces estendido no chão até que 
o este absorva o teu corpo. 
Cais! 
Cais pesada como as tempestades que destrói
os devaneios e enterram os sonhos. 
Cais como as tristezas que fazem os olhos 
derramarem lágrimas que não tem para 
chorar, e assustam os sorrisos dos lábios. 
Cais como as promessas que se perderam 
no tempo sem se fazerem cumprir.

Cais! 
Cais e em teu tombo, abraça-te a saudade que
sofre de solidão enquanto te acena um adeus.
Cais como o orvalho do final da primavera 
que furta o perfume das flores que deveria 
perfumar.
Cais!
Cais e em teu tombo arrasta consigo a 
felicidade que, displicente, passeava ao teu 
redor. 
Cais!
Cais e chora, silenciosamente, com vergonha 
de eu ouvir o teu pranto chamar o meu nome.
Cais no silêncio que te consome até não 
poderes mais aguentar-te de pé,  e cais.

            Habacuc - Brasília, setembro de 2012

                          *


 




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