
O meu
corpo dói.
Me dói tudo, dói desde os meus pés
até a
minha cabeça.
Dói.
A dor me
dói, ela me tortura, espreme o
meu corpo sem piedade, me mói como
que querendo extirpar o meu espírito.
A dor me bate, ela morde a minha
língua, arranca os meus dentes para que
não ranjam.
A dor, doendo em sua mais profunda
intensidade, me faz pensar em meus
pecados e então peco com mais
veemência proferindo toda sorte de ,
palavras
profanas.
A dor
chicoteia o meu corpo como se eu
fora seu
escravo.
Os meus gemidos, soando como uma
canção fúnebre levam a dor ao orgasmo
pleno.
A dor espreme o meu
corpo enquanto,
em oração, imploro por clemência e
diante de tanto sofrimento.
A minha fé, diante de tanto sofrimento,
ameaça me abandonar, então o pânico
sacode o meu espírito.
Oro, mas quanto mais
oro, mais a dor
açoita o meu corpo.
No meio da noite a dor, enfurecida, grita,
espanta o meu sono, não me deixar
dormir.
Oro,
peço ajuda mas a ajuda, tomada de
horror, não vem me socorrer.
O meu coração, desamparado, quase
desvalido de fé vacila entre ficar
comigo ou abandonar as suas batidas.
A dor
me bate!
A dor me bate e rebate para que eu perca
a consciência e, inconsciente, desaprenda
a orar.
Enfraquecido na fé, sou motivo
de
chacota da dor que dói.
A dor dói sem misericórdia
e sorrir, a dor
sorri da minha fraqueza.
A dor,
maliciosa, sorrindo crava os seus
dentes
em minha carne e a faz sangrar.
Eu sangro, eu choro.
O meu corpo geme, sangra e profere
palavras desconexas, palavras que em
condições minimamente normais, não
proferiria.
A dor me dói!
A dor me dói
da cabeça aos pés, a dor
dói.
A dor me tortura, mas num
último suspiro,
antes de tudo que creio me abandonar,
ouço o nome que sei escrito
na cruz
chamar o meu nome.
Ouço a sua voz
me pedir para me guardar
em minha fé.
De repente, numa mordida inclemente, a
dor
dilacera o meu corpo e por pouco
não alcança o meu espírito.
Agonizando caio de joelho
em oração e o
meu coração canta a uma triste canção ao
pé da Cruz.
O meu corpo
inteiro dois, o meu corpo
dói fustigado pela tristeza de sentir
tanta
dor.
O Mensageiro - Brasília, novembro de 2012.
*
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