segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O meu corpo dói



O meu corpo dói.
Me dói tudo, dói desde os meus pés até a 
minha cabeça.
Dói. 
A dor me dói, ela me tortura, espreme o
meu corpo sem piedade, me mói como 
que querendo extirpar o meu espírito. 
A dor me bate, ela morde a minha 
língua, arranca os meus dentes para que 
não ranjam. 
A dor, doendo em sua mais profunda 
intensidade, me faz pensar em meus 
pecados e então peco com mais 
veemência proferindo toda sorte de ,
palavras profanas.

A dor chicoteia o meu corpo como se eu
fora seu escravo. 
Os meus gemidos, soando como uma 
canção fúnebre levam a dor ao orgasmo
pleno.
A dor espreme o meu corpo enquanto,
em oração, imploro por clemência e 
diante de tanto sofrimento. 
A minha fé, diante de tanto sofrimento, 
ameaça me abandonar, então o pânico
sacode o meu espírito.
Oro, mas quanto mais oro, mais a dor  
açoita o meu corpo.
No meio da noite a dor, enfurecida, grita, 
espanta o meu sono, não me deixar 
dormir.
Oro, peço ajuda mas a ajuda, tomada de
horror, não vem me socorrer.
O meu coração, desamparado, quase 
desvalido de fé vacila entre ficar 
comigo ou abandonar as suas batidas.

A dor me bate!
A dor me bate e rebate para que eu perca
a consciência e, inconsciente, desaprenda
a orar.
Enfraquecido na fé, sou motivo de 
chacota da dor que dói.
A dor dói sem misericórdia e sorrir, a dor
sorri da minha fraqueza.
A dor, maliciosa, sorrindo crava os seus
dentes em minha carne e a faz sangrar.
Eu sangro, eu choro.
O meu corpo geme, sangra e profere 
palavras desconexas, palavras que em 
condições minimamente normais, não 
proferiria.
A dor me dói! 
A dor me dói da cabeça aos pés, a dor 
dói.

A dor me tortura, mas num último suspiro,
antes de tudo que creio me abandonar, 
ouço o nome que sei escrito na cruz 
chamar o meu nome. 
Ouço a sua voz me pedir para me guardar
em minha fé. 
De repente, numa mordida inclemente, a
dor dilacera o meu corpo e por pouco 
não alcança o meu espírito.
Agonizando caio de joelho em oração e o
meu coração canta a uma triste canção ao
pé da Cruz.
O meu corpo inteiro dois, o meu corpo 
dói fustigado pela tristeza de sentir tanta
dor.

O Mensageiro - Brasília, novembro de 2012.


                           *



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