Os trapos velhos que repousam sobre o corpo do
pedinte, somente com muita boa vontade, lhe
cobrirá as vergonhas.
Curvado sob
o peso da tristeza que os
Os trapos tentam e tentam, mas a pele rebelde
do pedinte refuta-os e lhes foge.
A pele do desafortunado escapa pelas frestas do
tecido roto, e se deixa à mostra.
Despido, o corpo do infeliz fica a exposto, e
exposto, mostra o que a sociedade se nega a
ver.
Os viventes olham com criticismo
cínico a
pobreza que acreditam não ser suas,
ignorando o fato de que esta pobreza os
cumprimenta todos os dias enquanto fingem
estarem encontrando-a pela primeira vez.
Arrastando-se
sob o peso do sofrimento que a
pobreza extrema lhe impõe, o pedinte segue
os olhares passantes como se fora sombra
desses.
Muda, a presença do pedinte invade
os
ouvidos moucos dos viventes que a ignora.
A pobreza do pedinte grita uma verdade que
ninguém gosta ouvir e, para o suplicio dos
transeuntes, a indigência do pedinte se
mostra completamente
nua, em ambientes
onde só aceitam os bem vestido.
infortúnios da vida lhe impõe, o corpo nu do
pedinte faz graça com a desgraça a que é
condenado a viver.
Sob o pretexto de resguardar a pela do
pedinte do frio, as roupas velhas que o vestem
na verdade tentam esconder a sua presença
para que esta não incomode os olhos dos
passantes.
Rebelde, a nudez do pedinte rasga as roupa
que a esconde e se mostrar como é, como
ela entende que precisa ser vista.
Este é o seu protesto mudo, é o protesto de
quem não tem espaço para protestar.
Então, ali, no meio de onde não deveria
estar, o corpo curvado do pedinte se
arrastando sob o peso da
injustiça que lhe
castiga, ele protesta.
O pedinte protesta, ele expõe
sua miséria,
obra da nossa sociedade que nunca ensinou,
e nem nunca foi ensinada a compartilhar.
O Mensageiro, Brasília, novembro de 2012
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