A terra ressequida abre-se em fendas
rasgadas pelo
calor do sol
inclemente e, instigada pela secura
do ar, clama por vidas.
A
terra rachando em fome, voraz,
engole
os corpos esqueléticos que,
sem vida, lhe caem goela abaixo
e
os regurgita.
A terra seca soluça convulsivamente,
ela regurgita o que a situação lhe
oferece por alimento, mas não
vomita.
A terra, cuidadora como todas as
mulheres, acolhe em seu ventre o
aqueles que lhe são dado para
cuidar, a
cuida.
A terra seca, em sua sabedoria,
guarda as suas crias longe do sol
escaldante.
Guarda todas em seu ventre.
A
terra morre sem derramar uma
única lágrima, ela morre e morta
bebe as lágrimas que derramam
sobre o seu ventre.
O ventre da terra, incha como
uma
ferida, incha como os joelhos
cansados de se ajoelhar, como o
choro que não sabe como calar.
A terra ressequida abre-se em
fendas, fendas onde repousa os
corpos dos que tiveram suas
moradas confiscadas pela seca.
A terra seca acolhe os corpos dos
que se apartaram da vida, e
vive de receber os que perderam
os seus corpos.
A terra, como mãe ama a sua
prole.
Ela acolhe todos que nela buscam
refugio.
A terra seca chora o último choro
dos desesperados.
Ela soluça os soluços dos já não
podem soluçar.
O Mensageiro - Brasília - novembro de 2012.
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Lindo....
ResponderExcluirMeu amor, que poema tocante!
ResponderExcluirFez-me recordar a minha terra tão sofrida - o "sertão cearense"!
Fico impressionada com a sua sensibilidade de falar de questões sociais tão amplas e sutilmente nos convidar à reflexão da nossa responsabilidade sobre o caos total no ambiente planetário.
Beijos mil, poeta lindo!
Oi linda! Obrigado por tuas palavras carinhosas.
ResponderExcluirSeca, secas e mais secas. Todas secas que ha muito deveria não mais acontecer. Miséria e sofrimentos evitaveis mas que, infelizmente, continuar atormentando a vida de milhoes de brasileiros.