sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Terra seca



A terra ressequida abre-se em fendas
rasgadas pelo calor do sol 
inclemente e, instigada pela secura
do ar, clama por vidas.
 
A terra rachando em fome, voraz, 
engole os corpos esqueléticos que,
sem vida, lhe caem goela abaixo e 
os regurgita.

A terra seca soluça convulsivamente,
ela regurgita o que a situação lhe 
oferece por alimento, mas não
vomita. 

A terra, cuidadora como todas as 
mulheres, acolhe em seu ventre o 
aqueles que lhe são dado para 
cuidar,  a cuida.
 
A terra seca, em sua sabedoria, 
guarda as suas crias longe do sol
escaldante.
Guarda todas em seu ventre.

A terra morre sem derramar uma 
única lágrima, ela morre e morta 
bebe as lágrimas que derramam
sobre o seu ventre.
 
O ventre da terra, incha como uma 
ferida, incha como os joelhos  
cansados de se ajoelhar, como o 
choro que não sabe como calar. 

A terra ressequida abre-se em 
fendas, fendas onde repousa os 
corpos dos que tiveram suas 
moradas confiscadas pela seca.

A terra seca acolhe os corpos dos
que se apartaram da vida, e
vive de receber os que perderam
os seus corpos.

A terra, como mãe ama a sua
prole.
Ela acolhe todos que nela buscam
refugio.

A terra seca chora o último choro
dos desesperados.
Ela soluça os soluços dos já não 
podem soluçar.  

O Mensageiro - Brasília - novembro de 2012.
 
                  *





3 comentários:

  1. Meu amor, que poema tocante!
    Fez-me recordar a minha terra tão sofrida - o "sertão cearense"!
    Fico impressionada com a sua sensibilidade de falar de questões sociais tão amplas e sutilmente nos convidar à reflexão da nossa responsabilidade sobre o caos total no ambiente planetário.

    Beijos mil, poeta lindo!

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  2. Oi linda! Obrigado por tuas palavras carinhosas.
    Seca, secas e mais secas. Todas secas que ha muito deveria não mais acontecer. Miséria e sofrimentos evitaveis mas que, infelizmente, continuar atormentando a vida de milhoes de brasileiros.

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