sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Na hora da morte


Morte! 
Que ao abraçares o meu corpo não sejas
perversa, não sejas cínica.
Que os teus braços, ao me abraçarem,
não me atirem ao chão, como a 
violência do desprezo.

Morte!
Que o teu sorriso, ao sorri para mim, 
não deboche da minha angústia e, nem
da angústia da tristeza do meu coração.
Que a tua vaidade, morte, não se sinta
ofendida por conta da minha indiferença
à  tua existência.

Morte! 
Que não me tortures antes de levar-me
consigo.
Que não me mates antes de, de fato,
ceifar-me a vida.
Que a minha vida pré-morte não seja
tratada por ti, com o escárnio com que
tratas a todos que ousam não te temer.

Morte!
Que ao tirar-me para dançar, dances 
comigo como se dançássemos a mais
linda das valsas.
Que o teu abraço em meu corpo, seja 
tão meigo quanto o afago da brisa 
abrando a madrugada.
Que sejas tão meiga quanto ao beijo da
minha amada. 

Morte, morte, morte!
Conduza-me para a tua morada como
se conduzisses o teu noivo para o altar.
Toma-me em teus braços, como se fora
para me amar.
Deite-se sobre o meu corpo, como o 
orvalho deita sobre as flores desejoso 
por fazer amor com elas.

        O Profeta - Brasília, outubro de 2012.

                           *




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