terça-feira, 17 de julho de 2012

A seca nordestina



O calor é inclemente, o vento, sonolento, 
quase não consegue soprar.
O sol, espetado no céu, olha para os 
viventes, como se esses fossem folhas 
penduradas no varal para secar.
Agarrados às suas ramas, descrentes e 
dependentes, os viventes não percebem 
quem é/são o(s) causadores da sua dor.

A seca seca tudo, inclusive os sonhos!
A poeira quente, soprada pelo vento faz 
os olhos chora. 
Os olhos choram à seca, e a seca chora 
os seus mortos, mas não protesta, não
protesta, até porque, a morte é a dona do 
lugar. 
 
Cansada de chorar de fome, a forme, 
viciada em vidas, devora os viventes. 
Vidas!
A fome toma a vidas dos pobres 
sertanejos que, além de suas vidas, nada 
mais tem para entregar. 
E a seca campeia! 

Há muito a chuva não visita o nordeste,
alias, ela nunca gostou de  andar por lá. 
Desesperançado o sertanejo olha para o
céu e faz mais uma oração.
Com sede, olhos vertem lágrimas, 
lágrimas vertidas que rega o solo. 
O solo, ávido de fome e sede, aceita 
qualquer líquido que lhe cai à boca.
Não importa se é água ou lágrimas, ele 
só saciar a sua sede. 

Então a terra bebe, ela bebe até as gotas
do suor que escorre da testa do sertanejo
sofrido.
Gente brava, gente valente que insiste 
em sua luta inglória contra a seca   
inclemente, sem entender que esta não 
é obra do sol, mas sim, coisa de gente. 

Sem chuva, a terra rica fica pobre e. 
sendo pobre, como todos os pobre ela 
tem fome.
Com fome, ao primeiro gemido do 
vivente, a terra abre a sua boca e o 
engole.
É o repouso de mais um valente que 
tombou diante de uma luta desigual. 
Luta inglória, luta contra um inimigo 
que, se não fosse tão amigo, há muito
haveria deixado de existir.

        Lido da Silva - Brasília, julho de 2012.

                       *



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