A poeira
vermelha e quente, afogava os meus
pés descalços, que pisavam em seu corpo.
Sob o forte calor do cerrado, eu descia a rua
gritando: - "Olha o picolé!"
Os passantes observavam com indiferença o
meu chamado que, sem se importar com o
calor reinante, saia forte da minha garganta:
- "Olha o picolé!"
Suas bocas secas, suplicavam por
um copo
D´água fresca, quiçá gelada, mas ali, diante
de seus olhos estava eu, um negrinho, os
torturando com meu grito: "Olha o picolé!"
O sol escaldante queimava tudo, queimava,
inclusive, a pele de quem o desafiava.
O negrinho, no entanto, precisava trabalhar,
ele não podia esperar pela sombra.
Teimoso,
vestido em sua pele escura, eu
desafiava o sol gritando: "Olha o picolé!"
Aquele negrinho parecia não perceber que
os viventes só queriam fugir da fúria do sol.
O negrinho parecia não perceber que os
viventes não davam ouvidos aos seus gritos
e descia a rua gritando: "Olha o picolé!",
ele não se importar com a fúria do sol.
Sem a ameaça
da chuva, o sol era absoluto
e a poeira vermelha, em
seu eterno repouso,
odiava ser importunada pelos pés daquele
negrinho.
"Olha o picolé!", lá ia eu descendo a rua
e oferecendo o que tinha para vender.
Pouco me importava o calor do sol, ou
a fúria da poeira, eu precisava vender.
La ia eu, o negrinho, protegido por minha
pele escura, ignorando a violência do sol,
e indiferente à agonia da poeira, gritando:
"Olha o picolé!".
Lido da Silva - Brasília, julho de 2012
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