quinta-feira, 19 de julho de 2012

Espelho do banheiro


Paro, despido, diante do espelho do banheiro
e este, com ar de deboche, repara em meu
corpo nu e não evita o sorriso maroto que 
brota de seus lábios.
Cínico, fingindo seriedade, ele me pergunta: 
"Te lembras de como eras quando jovem?"
Se lembro!   

O espelho do meu banheiro, logicamente,
não é o mesmo espelho de outrora, mas 
claro, ele conhece as histórias da minha 
adolescência.
Ele as conhece e, hoje, vendo o meu corpo
enrugado despido, com ar zombeteiro, m
pergunta se a Quinha, se a Nega já viram o 
meu corpo envelhecido assim.

O espelho do meu banheiro é cínico, muito
cínico. Claro que ele sabe o que se passa 
comigo agora.
O meu corpo envelhecido já não goza do 
mesmo vigor de outrora.
Ao ver-me nu, o espelho me examina
minuciosamente e, com sarcasmo, se acaba 
em sorriso.

O tempo passou e com ele levou toda a 
minha vitalidade.
Vendo-me urinar, e molhar tudo ao redor 
do vaso, sarcástico, o espelho me pergunta
se preciso de uma mãozinha. 
Meio constrangido, mas com algum senso 
de humor, me recordo dos bons tempos
vivido e dou um sorriso cheio de gratidão.

                         Lido da Silva - Brasília, julho de 2012.

                            *


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