Paro, despido, diante do espelho do banheiro
e este, com ar de deboche, repara em meu
corpo nu e não evita o sorriso maroto que
brota de seus lábios.
Cínico, fingindo seriedade, ele me pergunta:
"Te lembras de como eras quando jovem?"
Se lembro!
O espelho do meu banheiro, logicamente,
não é o mesmo espelho de outrora, mas
claro, ele conhece as histórias da minha
adolescência.
Ele as conhece e, hoje, vendo o meu corpo
enrugado despido, com ar zombeteiro, me
pergunta se a Quinha, se a Nega já viram o
meu corpo envelhecido assim.
O espelho do meu banheiro é cínico, muito
cínico. Claro que ele sabe o que se passa
comigo agora.
O meu corpo envelhecido já não goza do
mesmo vigor de outrora.
Ao ver-me nu, o espelho me examina
minuciosamente e, com sarcasmo, se acaba
em sorriso.
O tempo passou e com ele levou toda a
minha vitalidade.
Vendo-me urinar, e molhar tudo ao redor
do vaso, sarcástico, o espelho me pergunta
se preciso de uma mãozinha.
Meio constrangido, mas com algum senso
de humor, me recordo dos bons tempos
vivido e dou um sorriso cheio de gratidão.
Lido da Silva - Brasília, julho de 2012.
*
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