Sentado à varanda do tempo, contemplando a beleza
do silêncio da noite, me permitindo devanear e viajo.
Viajo!
Vou me encontrar em algum lugar guardado no
esquecimento e lá, me deparo com o menino "eu"
brincando às margens do rio guandu, onde vivi os
primeiros anos da minha infância.
Diante do meu olhar infantil, aquele lugarejo parecia
imenso, tão grande que fazia me sentir como um
grão de areia.
Lá, onde só consigo chegar em pensamentos, é o
lugar em que céu se curva sobre as águas do guandu
ansioso por toma-la em seus braços.
Lindas flores ornamentavam as margens do rio
guandu, quando da minha infância.
Sempre que estávamos só, o guandu e eu,
conversávamos sobre tudo e todos que viviam à sua
volta.
Eu conversava com os pássaros e com os insetos
que passeavam, alegremente, beijando e cheirando
às flores.
Ao amanhecer o rio guandu me falava de como
eram passadas as suas noites com a lua.
Ele me falava das serestas sob o luar, e dos
amantes que, às suas margens iam namorar.
Ele, também, me falou como o sol, certa vez,
quase o secou.
O sol estava irado de ciúmes, desconfiado de um
romance seu com a lua.
Nessa ocasião o sol quase o matou de sede.
À noite, em meio a sinfonia da mata, eram as
canções do guandu que embalavam o meu sono.
Menino de imaginação fértil, eu enterrava às
margens do guandu as histórias e recordações
que imaginava um dia poder reviver.
Agora, sentado à varanda do tempo, me permito
devanear e, em devaneio, vou ao encontro do
que enterrei nas areias do guandu e lá revivo à
minha primeira infância.
Lido da Silva, Brasìlia, fevereiro de 2012
*
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