domingo, 19 de fevereiro de 2012

O rio



Seguindo o seu curso, ziguezagueando como um
bêbado, o rio passa em minha vida e leva 
consigo o velho e deixa comigo o  novo, o 
amanhã.
O amanhã chega em minha vida e encontra o rio
que sou com suas águas turbulentas, 
ameaçadoras e, amedrontado, espreita à distância
e passa correndo, vai. 
O amanhã vai, ele parte, desata às corredeiras que
correm paralelas ao rio que é a minha vida e 
zomba do amanhã que, desavisado, chegará  sem
saber da fúria que o espera. 
O rio transborda e arrasta consigo a noite que 
dorme silenciosa e sem um suspiro se deixa 
levar para as incertezas do amanhã.

E a minha vida imitando os rios que atravessa em
sua jornada.
A vida transborda e me arrasta rua abaixo com
uma violência tal que os viventes que assistem a
sena, com medo da sua fúria, mantém-se à 
distância, permitem a vida me levar. 
A inércia, apavorada, grita para que me socorram 
mas vivente algum se atreve a enfrentar, a se 
atirar na enxurrada para me ajudar. 
A vida em seu curso atravessa, rasga a minha alma
que, amedrontada, omite-se, cala.
Com os olhos fechados a vida assiste as águas 
turvas engolirem o que penso ser a minha vida e 
não avisa que a vida é um rio, o rio que sou.

A noite chega às margem da minha vida que corre
em seu leito e faz balançar o capinzal que se 
curva sobre suas águas para engolir os sapos, os 
grilos e os gafanhotos que cantarolam mas que se
fazem silenciosos quando, de repente, uma folha 
que acabou dmorrer cai emitindo o seu último 
barulho. 
O vento sopra, balança os galhos em volta só para 
incomodar o sono dos pássaros.
Assim é a vida ao meu redor, a minha vida que 
imita os rios, abraça os peixes que nadam serenos 
enquanto os jacarés, fingindo indiferença, pensam
como comê-los. 
Como a minha vida, os rios transbordam, é o rio,
a minha vida que segue seu rumo, sou eu.

              Lido da Silva - Brasília, fevereiro de 2012

                               *

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O teu chicote

Não creio que me odeias como acreditas me odiar. Penso que o que inquieta o teu espírito é saber que já não vivo mais sob o teu julgo, que j...