Seguindo o seu curso, ziguezagueando como um
bêbado, o rio passa em minha vida e
leva
consigo o velho e deixa comigo o novo, o
amanhã.
O amanhã
chega em minha vida e encontra o rio
que sou com suas águas
turbulentas,
ameaçadoras e, amedrontado, espreita à distância
e
passa correndo, vai.
O amanhã vai, ele parte, desata às corredeiras que
correm paralelas ao rio que é a minha vida e
zomba do amanhã que, desavisado, chegará sem
saber da fúria que o espera.
O rio transborda e arrasta consigo a noite que
dorme silenciosa e sem um suspiro se deixa
levar para as incertezas do amanhã.
E a minha vida imitando os rios que atravessa em
sua jornada.
A vida transborda e me arrasta rua abaixo com
uma violência tal que os viventes que assistem a
sena, com medo
da sua fúria, mantém-se à
distância, permitem a vida me levar.
A
inércia, apavorada, grita para que me socorram
mas vivente algum se atreve a
enfrentar, a se
atirar na enxurrada para me ajudar.
A vida em seu curso atravessa, rasga a minha alma
que, amedrontada, omite-se, cala.
Com os olhos fechados a vida assiste as águas
turvas engolirem o que penso ser a minha vida e
não avisa que a vida é um rio, o rio que sou.
A noite chega às margem da minha vida que corre
em seu leito e faz balançar o capinzal que se
curva sobre suas
águas para engolir os sapos, os
grilos e os gafanhotos que cantarolam mas que se
fazem silenciosos quando, de repente, uma folha
que acabou de morrer cai emitindo o seu último
barulho.
O vento sopra, balança os
galhos em volta só para
incomodar o sono dos pássaros.
Assim é a vida
ao meu redor, a minha vida que
imita os rios, abraça os peixes
que nadam serenos
enquanto os jacarés, fingindo indiferença, pensam
como comê-los.
Como a minha vida, os rios transbordam, é o rio,
a minha vida que segue seu rumo, sou eu.
Lido da Silva - Brasília, fevereiro de 2012
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário