Seguindo o seu curso o rio passa em minha vida e
leva
Consigo o velho enquanto faz nascer o novo, o amanhã.
O amanhã
chega em minha vida e encontra o rio com
Suas águas
turbulentas, ameaçadoras e, amedrontado,
Espreita à distância e
passa correndo por mim e vai.
Ele vai.
Parte, desata as
corredeiras que correm paralelas ao
Rio enquanto zombam do amanhã que
chegará
Desavisado da fúria que o espera.
O rio transborda e
arrasta a noite que dorme silenciosa,
E sem um suspiro se deixa levar para o amanhã incerto.
E a minha vida que imita os rios que atravessou,
Transborda.
A vida transborda e me arrasta rua abaixo com
Violência tal que os viventes que assistem eu sendo
Arrastado, com medo
da sua fúria, ficam à distância,
Permitem a vida me levar.
A
inércia, apavorada, grita para que me socorram
Mas ninguém se atreve a
enfrentar, a se atirar na
Enxurrada para me ajudar.
A vida em seu curso atravessa, rasga a minha alma que,
Amedrontada omite-se, cala.
Com os olhos fechados a vida assiste a água turva
Engolir o que penso ser a vida e não avisa que a vida é
Um rio, que é o
que sou.
A noite chega às margem da minha vida que corre em
Seu leito e faz balançar o capinzal que se curva sobre
Suas
águas para beber
Sapos, grilos e gafanhotos cantarolam e se
fazem
Silenciosos quando, de repente, uma folha que acabou
De morrer cai fazendo o seu último barulho.
O vento sopra, balança os
galhos em volta só para
Incomodar o sono dos pássaros.
Assim é a vida
ao meu redor.
A minha vida que imita os rios, abraça os peixes
que
Nadam tranquilos enquanto os jacarés, fingido
Indiferença, pensam como comê-los.
Como a minha vida, os rios transbordam, é o rio, a vida
Que segue seu rumo, sou eu.
Liso Silva
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