sábado, 3 de dezembro de 2011

Batem à porta




Batem à porta, abro-a e desabo, caio e no chão sou pisado, sou
Machucado pela porta que abri. Batem à porta, abro-a e o vento,
Sem pedir licença, entra e desarruma a minha vida. Caído, sem
Força para levantar-me sou massacrado pela vida que zomba e
Me deixa ali no chão onde ela entende ser o meu lugar.
A porta empurrada pelo vento bate violentamente contra o meu
Corpo, espreme os meus dedos fazendo-os sangrar e sangra o
Meu coração. O meu coração, em soluços assopra, assopra as
Suas feridas, as minha feridas.

Batem à porta, e quando abro-a deparo-me com o vento que
Resmunga ao perceber que a mesma já havia sido deixada
Entreaberta. O vento, resmungando, entra irado passando pela
Porta e suas frestas arrancando as arestas da minha vida, que
Ali estavam pregadas. Ele entra e ao passar por mim, enche os
Meus olhos de poeira, poeira me impede de ver se ao sair ele
Leva consigo parte do tempo que me foi dado para viver. Batem
À porta e já não tenho coragem de abri-la.

Batem à porta! Pensei ter ouvido alguém chamar o meu nome.
Batem à porta e não escuto, não atendo, não respondo e penso
Ter sido uma ilusão. Batem à porta repetidamente, sinto o vento
Empurrando-a com fúria e então grito, peço para que me ajudem.
Sem nada entender o vento para, faz silêncio e não me atira ao
Chão, não me pisoteia e nem atira a porta contra o meu corpo.
Silencioso ouço o vento bater a porta e partir. Ele parte e me
Parte, me deixa as feridas lambidas que assistem a minha agonia,
Por ter a porta ficado entreaberta.

                                                                                               Mauro Lucio


                                         *

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fardo

  Envelheci. O que me foi dado a viver, vivi.  Os meus olhos, agora cansados, vêm, ainda que sem muita nitidez, a hora da minha despedida. V...