Me arrasto, sinto um cansaço que pesa em meu abstrato, me
Arrasto.
Me arrasto, me perdoo e deixo o desgosto tomar conta de
Mim, e me arrasto.
Ainda quando corro me arrasto, me curvo, ando de lado
Para conseguir passar entre os apertos da vida, e me arrasto.
Corro, corro uma corrida cansada, uma corrida igual a
Pouco mais que um arrasto, então ando.
Ando como uma pedra pesada quando empurrada por um
Fraco, ando como um pensamento que se recusa a deixar
Uma mente pensante, e corro.
Corro, me arrasto, me arrasto no rastro do meu corpo que
Não sai do lugar e sigo, vou, ando, me arrastando.
Me arrasto!
Ando tão de vagar que me impaciento com o meu Caminhar.
No céu, o sol ofendido pelo meu arrastado, me açoita como
Um chicote na mão de um carrasco.
O Sol me açoita, ele me queima sem piedade, tenta me fazer
Correr, mas só me arrasto.
Me canso, o sol me surra e o meu corpo, como o ignorando,
Continua andando devagar, sigo me arrastando.
Me arrasto!
Debaixo do calor inclemente que, no limite da sua
Impaciência me empurra, tenta apressar os meus passos,
Mas sem ânimo, fico imóvel.
Me arrasto!
Me arrasto como tudo que é pesado é arrastado!
Deixo o cansaço me levar, vou arrastando o meu corpo, sem
Um pingo da pressa que a pressa tem.
O meu corpo, depois de muito ir e voltar, não se importa de
Ser arrastado por uma pressa que não é sua, ele segue o seu
ritmo.
Enquanto o meu pensamento voa, vai longe, o meu corpo se
Arrasta.
Os meus pensamentos viajam, voam, vão longe, correm
Em uma velocidade que o meu corpo não consegue entender
O porque e nem para que.
A minha cabeça é só confusão e o meu corpo não
Acompanha a sua percepção e então se arrasta.
Se arrasta.
Me arrasto!
Cansado me arrasto como uma folha seca é arrastada pelo
Vento, me arrasto.
Me arrasto, e enquanto me arrasto, as coisas passam
Correndo pela vida como se quisessem recomeçar sem a
minha pessoa.
Então, depois de muito me arrastar, concluo que não faz
Sentido algum ter pressa.
O inevitável já se deu, a certeza, certamente, acontecerá, as
Dúvidas permanecerão duvidando e, finalmente, me
Arrastando ou correndo nunca chegarei onde o destino não
Me destinou a chegar.
O Observador - Brasília, dezembro de 2011,
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário