Tempo foge de mim.
Me deixo banhar pela chuva só para observar o prazer que
Ela sente ao me molhar, ao tomar o meu corpo em seus
Braços.
Permito que o frio me agasalhe, só para eu saber o quanto ele
Me dói quando sou tomado pelo desagasalho da solidão.
Corro!
Corro atrás do vento que empurra o meu tempo para onde
Este se perde no esquecimento do que já foi vivido.
Ofuscado pelo brilho do sol, não me dou conta de que este
Se aproxima furtivamente de mim, com o intuito único de
Queimar a minha pele já um tanto quanto queimada.
Ressecada pelos desaforos da vida, a minha cútis enruga-se
E mostra a minha idade. Uma idade que eu gostaria de
Esconder.
Corro, tento segurar o vento que escapa por entre meus
Dedos e foge zombando de mim, foge puxando, arrancando
Os meus cabelos, expondo a minha calvície.
Corro!
Sem saber para onde o tempo me leva, vou lá fora e deixo a
Chuva me molhar, me lavar, tirar toda imundice encrostada
Em minha alma.
Ressabiado com o vai e vem do vento saio e deixo a chuva
Desabar sobre o meu corpo, deixo–a lavar o meu eu e,
Purificado, corro atrás do tempo que rouba a minha juventude.
Tomado pelo devaneio voo com o vento, vou até onde ele
Se transforma em tempo e tento interrompe-lo e assim evitar
Que ele leve, precocemente, a minha vida para onde ela
Começou.
*
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